A SBPC/ML e a SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia) lançam em conjunto o Posicionamento de Intervalos de Referência da Vitamina D – 25(OH)D. Segundo o documento, seu objetivo é discutir e sugerir uma melhor prática na solicitação e interpretação dos resultados e a definição de valores de referência do metabólito 25(OH)D, de acordo com a faixa etária e a presença ou não de doenças crônicas.
O Posicionamento foi elaborado por uma comissão formada por especialistas da SBPC/ML e do Departamento de Metabolismo Ósseo da SBEM para desenvolver as recomendações baseadas nas evidências científicas disponíveis na literatura atual sobre a vitamina D.
De acordo com o documento, estudos sobre níveis de vitamina D em diferentes regiões do mundo “confirmam a alta prevalência de hipovitaminose D, associada principalmente com a idade acima de 60 anos, maior latitude, inverno, maior pigmentação da pele, menor exposição solar, presença de doenças crônicas, hábitos alimentares, gestação, lactação e ausência de alimentos fortificados com vitamina D”. No Brasil, a hipovitaminose D foi documentada em várias regiões.
Intervalos de referência
O diretor de Ensino da SBPC/ML, Carlos Eduardo Ferreira, explica que os intervalos de referência apresentados no Posicionamento são diferentes dos anteriores. “Criamos duas faixas, uma para a população adulta sem comorbidades e outra para idosos, gestantes e situações clínicas específicas.”
“Existe controvérsia em relação ao limite de corte utilizado para definir deficiência de vitamina D. Alguns serviços reportam o valor de 20 ng/mL e outros 30 ng/mL. O novo posicionamento define o valor de 20 ng/mL para a população geral, mas sugere que indivíduos com fatores de risco devem manter valores entre 30 e 60 ng/mL”, acrescenta o patologista clínico Marcelo Batista, membro do grupo da SBPC/ML que participou da elaboração do Posicionamento.
A presidente do Departamento de Metabolismo Ósseo da SBEM, Carolina Moreira, destaca que os indivíduos que se encaixam nas características clínicas citadas e ainda pacientes com osteoporose, doenças intestinais que cursam com problemas na absorção de cálcio ou que fizeram cirurgia bariátrica estão inseridos no chamado grupo de risco para deficiência de Vitamina D.
“Para estas pessoas, a dosagem e rastreamento são indicados pois esse déficit pode representar uma consequência importante, como, por exemplo, o aumento do risco de fraturas”, afirma.
De acordo com o Posicionamento da SBPC/ML e da SBEM, para estes indivíduos foi estabelecido o valor de referência entre 30 e 60ng/mL. Com níveis acima de 100ng/mL alerta-se para o risco de toxicidade e hipercalcemia.
Segundo o patologista clínico Leonardo Vasconcellos, que trabalhou no documento pela SBPC/ML, a grande novidade apresentada é a redução do intervalo de referência para indivíduos sem riscos de hipovitaminose, com a mudança do ponto de corte de 30 ng/mL para 20gn/mL. “Com isso, aqueles indivíduos que apresentavam resultados de 25(OH)D entre 20 e 30 ng/mL deixam de ser classificados como insuficientes e passam a ser considerados como normais.”
Ele espera que o Posicionamento auxilie os profissionais de saúde na indicação correta do exame e na nova maneira de se interpretar os resultados laboratoriais.
“Cabe aos laboratórios de todo o país rever seus laudos e atualizá-los com base nessa nova recomendação para que possamos, finalmente, conhecer qual é a verdadeira incidência de hipovitaminose D em nossa população”, acrescenta.
Diagnóstico laboratorial
O Posicionamento de Intervalos de Referência de Vitamina D – 25(OH)D apresenta os grupos de risco para hipovitaminose D, indicações para solicitação de 25(OH)D, consequências clínicas, métodos de diagnóstico laboratorial, discussão sobre a inclusão dos intervalos nos laudos emitidos, intervalos de referência propriamente ditos e referências bibliográficas.
De acordo com Carlos Eduardo Ferreira, atualmente, as duas principais metodologias para o diagnóstico laboratorial são os imunoensaios e a cromatografia acoplada à espectrometria de massas (LC-MS/MS).
“Existem diferenças entre essas duas metodologias e também entre ensaios de diferentes fabricantes, mesmo que utilizem a mesma metodologia. Apesar disso, são recomendados nos dias de hoje os intervalos de referência oriundos de estudos clínicos, que utilizaram um ensaio específica mais antigo”, diz Ferreira.
Segundo Marcelo Batista, os imunoensaios são mais baratos, automatizados e rápidos, por isso são utilizados pela maioria dos laboratórios. No entanto, apresentam menor reprodutibilidade e estão mais sujeitos a interferentes analíticos.
“A LC-MS/MS é considerada o método de referência, porém, requer equipamentos muito caros e, atualmente, é apenas parcialmente automatizada, em geral não permitindo o processamento de grandes rotinas”, destaca Batista.
“O metabólito 25HD (25(OH)D) é considerado um analito de difícil quantificação devido, principalmente, à sua natureza hidrofóbica, à alta afinidade pela sua proteína ligadora e a metabólitos presentes no sangue. Tais fatores poderiam explicar a variabilidade observada entre os resultados dos diferentes ensaios existentes”, explica Leonardo Vasconcellos.
Novos intervalos de referência
- Acima de 20 ng/mL é o valor desejável para população saudável (até 60 anos);
- Entre 30 e 60 ng/mL é o valor recomendado para grupos de risco como: idosos,
gestantes, lactantes, pacientes com raquitismo/osteomalácia, osteoporose,
pacientes com história de quedas e fraturas, causas secundárias de
osteoporose (doenças e medicações), hiperparatiroidismo, doenças inflamatórias,
doenças autoimunes, doença renal crônica e síndromes de máabsorção
(clínicas ou pós-cirúrgicas);
- Acima de 100 ng/mL: risco de toxicidade e hipercalcemia.
Fonte dos dados de hipovitaminose D no Brasil
Maeda SS, Borba VZ, Camargo MB, Silva DM, Borges JL, Bandeira F, et al. Recommendations of the Brazilian Society of Endocrinology and Metabology (SBEM) for the diagnosis and treatment of hypovitaminosis D. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabologia 2014;58(5):411-33.
Documento na Biblioteca Digital
O Posicionamento de Intervalos de Referência de Vitamina D – 25(OH)D pode ser baixado em “pdf” na Biblioteca Digital SBPC/ML (bibliotecasbpc.org.br), seção “Publicações”.