Aula discute o atendimento a pacientes transgêneros: como tratar os valores referenciais para exames laboratoriais e a importância do acompanhamento com equipe multidisciplinar
A aluna do 4º ano de Medicinada Universidade de Rio Verde, em Goiás, Marihá Thaís Trombetta, tem um amigo transgênero há alguns anos. Com o convívio, ela percebeu despreparo dos profissionais de saúde na hora de fazer o atendimento.
“É sempre um momento de grande desconforto para ele”, relata.
E a partir da experiência pessoal, orientada pela professora Christiane Campos Marques, ela traz a apresentação “Singularidades laboratoriais e atendimento inclusivo de pacientes” transgêneros para discutir o tema em uma das mesas redondas do congresso.
De acordo com pesquisa da Faculdade de Medicina de Botucatu (Unesp), cerca de 2% da população brasileira tem diversidade de gênero. Dentro do guarda-chuva da diversidade, que é composta por indivíduos transgêneros, de gênero fluido e indivíduos não-binários, os transgêneros são aqueles que não se identificam com o sexo biológico com o qual nasceram.
Enquanto o gênero fluido ora se identifica como homem, ora como mulher, ou com nenhum dos dois, o não-binário é aquele que não se encaixa em nenhum.
Em casos de transgenereidade, o mais comum é que o homem transgênero sinta que nasceu “homem em corpo de mulher”. E vice-versa para mulheres transgêneros. Essa incapacidade de habitar o próprio corpo, que faz com que eles recorram a tratamentos hormonais, tem nome e é chamado de disforia.
As mulheres transgêneros, que são os indivíduos nascidos com sexo biológico masculino, fazem uso de estrogênio e anti-androgênio, o que ocasiona uma atrofia da produção de espermatozoides, estimula as glândulas mamárias, diminui os pelos, etc. Os homens transgêneros, ao fazerem uso da testosterona, muitas vezes, param de menstruar.
Além dos resultados na aparência física, a terapia hormonal pode desencadear alterações em exames laboratoriais. Nas mulheres transgênero, a tendência é ter níveis aumentados de prolactina, triglicerídeos e ferritina, por exemplo. Nos homens transgênero, os triglicerídeos também ficam aumentados, bem como a fosfatase alcalina.
“Em um atendimento de saúde ideal, o paciente daria entrada pelo sistema único de saúde. Com uma equipe multidisciplinar, ele daria início ao tratamento, com médicos de diversas áreas, que avaliassem o sistema renal e hepático, o emocional também”, explica.
Conforme explica a estudante, a terapia hormonal deve fazer acompanhamento semestral, anual ou bianual, a depender do exame. No caso de comportamento sexual de risco, é importante fazer exame sorológico com mais frequência. O rastreamento oncológico também é importante, bem como desintometria óssea regular.
“Os homens transgêneros, por exemplo, precisam fazer mamografia até a retirada da mama e o exame preventino, até a retirada do útero, se for o caso. No caso das mulheres transgêneros, é importante depois dos 50 anos, fazer a dosagem do hormônio prostático.