Ontem (06/10/2022), os Drs. Celso Granato, diretor Clínico do Grupo Fleury e professor livre docente da Escola Paulista de Medicina (Unifesp), Gustavo Barra, Farmacêutico clínico-industrial, Doutor em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília (UnB) e Coordenador do setor de genômica do Sabin Medicina Diagnóstica, José Eduardo Levi, coordenador do Comitê de Diagnóstico Molecular da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML), e João Renato Rebello Pinho, Professor Livre Docente de Gastroenterologia na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Médico do Departamento de Patologia Clínica do Hospital Israelita Albert Einstein, foram os convidados do 54º Congresso Brasileiro de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (CBPC/ML) para falar sobre a “Experiência brasileira no diagnóstico molecular de SARS-CoV-2 (covid-19): passado, presente e futuro”.
O Dr. Celso Granato apresentou sua experiência no laboratório Fleury, na pesquisa de anticorpos para covid-19. Os testes sorológicos tradicionais, que surgiram na metade de 2020 e que foram usados no laboratório Fleury, eram da Roche e Abbott. Foram padronizados com amostras de pacientes que tinham PCR positivo. De acordo com os dados do laboratório Fleury, 83% das pessoas apresentaram anticorpos detectáveis após uma semana de infectadas pela covid-19; 89% praticamente após duas semanas; 92,7% após três semanas e 95,1% após quatro semanas. “Isso foi feito bem no começo da pandemia, quando a maior parte das pessoas tinha a forma grave da doença.
“Existe uma preocupação com a sorologia, que é: dependendo do teste utilizado ao longo do tempo, esses anticorpos desaparecem. Há vários trabalhos que mostram que se você seguir essas pessoas durante três, quatro meses, tal sorologia pode negativar. Um estudo publicado pela revista Transfusion com pessoas bastante experientes do Banco de Sangue de São Francisco mostrou que o teste usado pelo laboratório Fleury foi o que se manteve positivo durante mais tempo”, explica o Dr. Granato.
Existe um outro tipo de sorologia que é a pesquisa de anticorpos neutralizantes, que utiliza um método funcional. O problema dele é que se baseia no primeiro vírus que surgiu lá na cidade de Wuhan, na China, ou seja, ele já sofreu uma série de mutações. Quando você usa esse teste com a cepa Ômicron, ele não traz exatamente o mesmo desempenho; vai mostrar algumas diferenças em relação ao teste neutralizante que se dá com o vírus que tem neste momento aqui.
“Nós também fizemos um teste de anticorpos neutralizantes em pacientes que foram vacinados. Desses, 77% foram positivos e 8% foram negativos e o restante foi indeterminado. Nos perguntamos: quanto tempo dura esses anticorpos neutralizantes? Isso vai depender muito do tipo de vírus que está circulando.
É importante entender que, quando a pessoa tem a sorologia positiva, ela também tem a imunidade celular positiva. Existem vários trabalhos mostrando isso, como nas revistas Cell, Emerging Infectious Diseases, mostrando que isso corresponde à realidade. Existe uma relação entre a resposta imune celular e a resposta imune humoral, uma vez que, nesse momento, ainda não se consegue avaliar a resposta imune celular.
De acordo com o Dr. José Eduardo Levi, especula-se que, no Brasil, a gente deve ter feito algo como 100 milhões de testes de covid-19, o que é muito e, com isso, falamos de Setor Público e Privado, utilizando reagentes de diferentes procedências, inclusive sistemas totalmente automatizados - embora esses sistemas estejam disponíveis hoje, em algum momento não estavam.
“Acho que um legado importante da pandemia é essa percepção de que a gente precisa investir em tecnologia, desenvolvimento local/nacional e produção local, para que não sejamos totalmente dependentes dessas outras fontes, pois em situações como essas (de pandemia), cada um cuida da sua parte. Por isso, os países que não são produtores sofrem com a falta de insumos, como reagentes de diagnósticos, vacinas, medicamentos, luvas, máscaras, entre outros”, explica.
De acordo com o médico, é muito importante o fomento da cadeia produtiva, particularmente falando sobre o RT-PCR, que é um método muito utilizado nas emergências, como foi no caso da covid-19 e, agora, com a Monkeypox. Será por muito tempo um padrão para identificar novos vírus e bactérias, doenças infecciosas e emergentes também.