ChatGPT, um modelo de linguagem desenvolvido pela empresa OpenAI, ficou conhecido pelo grande público como sinônimo de Inteligência Artificial (IA). Mas o Chatbot, como são chamados os programas de computador que simulam um ser humano na conversação, é apenas um tipo de aplicação possível da IA. No caso do ChatGPT é um software que é utilizado para conversas em linguagem natural. A ferramenta, instalada em aplicativos de mensagens, sites ou mesmo em plataformas de redes sociais, surpreende pela rapidez nas respostas, mas, além disso, também pela qualidade dos textos. Seu funcionamento segue diretrizes pré-programadas. Ele é treinado em uma grande quantidade de dados textuais de alta qualidade, coletados da Internet e é capaz de gerar respostas com base no contexto e nas informações fornecidas à ele.
Como explica o doutor Gustavo Pinto, diretor médico de Saúde e Plataforma Digital da Dasa, o ChatGPT pode ser usado como assistente virtual na área médica e, neste contexto, facilita inúmeras atividades cotidianas, proporcionando vantagens para profissionais de saúde e pacientes, sendo úteis no manejo de agendamentos de consultas e exames, operando ininterruptamente. Segundo Gustavo, o software também responde a perguntas comuns dos usuários, liberando a equipe de áreas administrativas para tarefas mais complexas.
“Além disso, o chatbot pode organizar o atendimento ao cliente, prevenindo a disseminação de informações inconsistentes, contribuindo para a conscientização e prevenção de doenças”, informa o médico. Felipe Kitamura, diretor de Inovação Aplicada e Inteligência Artificial na Dasa avalia que o uso do chat GPT na medicina laboratorial está só começando. “Enxergamos apenas a ponta do iceberg das reais possibilidades. Da mesma forma, os riscos das versões atuais dessas ferramentas também ainda não são totalmente conhecidos”, pontua.
Na avaliação de Kitamura não se trata apenas do ChatGPT mas de qualquer modelo LLM (da sigla em inglês para Large Language Models, que são os chatbots. “O da OpenAi é atualmente o mais conhecido, mas existem outros de outras empresas como, por exemplo, o Bard e o MedPalm da Google, entre outros. Esses modelos hoje demonstram capacidades muito impressionantes de entendimento, interpretação e escrita de texto, que podem ser usadas tanto para tirar dúvida de pacientes, como para preparar o exame, por exemplo”, detalha Kitamura. O doutor Gustavo Pinto ressalta que tais ferramentas podem melhorar a experiência do usuário ao proporcionar um atendimento personalizado e tem potencial para auxiliar em estratégias de marketing e atração de novos pacientes, melhorando o engajamento nas redes sociais.
Integrados a softwares médicos, podem disparar lembretes automáticos de consultas e procedimentos. Na avaliação do médico, por estarem sempre disponíveis, evitam inconvenientes, como longas esperas ou dificuldades de agendamento fora do horário comercial. “Contudo, vale frisar que essas ferramentas não substituem a atuação dos profissionais de saúde, mas servem para complementar e otimizar o atendimento. A expectativa é que a aplicação de assistentes virtuais na saúde continue avançando, proporcionando ainda mais benefícios ao setor”, afirma Gustavo.
Essa é também a opinião de Andre Doi, médico patologista clínico e diretor científico da SBPC/ML. Ele pontua que a medicina é uma ciência que está longe de ser exata, pois depende de muita interação não somente de médicos com pacientes como também de médicos com outros profissionais da área da saúde. “Cada vez mais valorizamos relações pessoais, trabalho em equipe e equipes multiprofissionais que possam trocar experiências. Nesse contexto, o ChatGPT é apenas uma ferramenta que facilita o acesso às informações, mas, não nos diz a melhor maneira de utilizá-las”, esclarece o médico. Ainda segundo Andre Dói, é possível que na medicina diagnóstica o uso dos chatbots com a melhora dos algoritmos e a integração de informações clínicas, epidemiológicas e laboratoriais agilize as conclusões médicas. Entretanto, na opinião dele, por não ter o senso crítico de um raciocínio clínico integrado, empático e sensorial, não substitui o julgamento de um profissional da área da saúde na tomada de decisões.
“A IA é muito boa em identificar padrões o que a torna muito precisa quando falamos de diagnóstico, por exemplo. Seja em um exame de imagem, análise microscópica de uma peça cirúrgica, ou seja, um padrão de resultados de exames laboratoriais em determinados tipos de doenças. Entramos em uma nova era da medicina que é muito mais precisa, mas, correndo o risco de ser menos humanizada. Tanto pela carência de julgamento clínico e empático como por um raciocínio superficial que tenta suprimir a ativação dos sentidos humanos para uma tomada de decisão”, alerta Andre Doi. Para Kitamura, os chatbots são muito eficientes em facilitar o contato direto do paciente com a clínica de medicina laboratorial, por exemplo.
Porém, ele avalia que as ferramentas não estão validadas o suficiente para que se aceite qualquer tipo de resposta.
“Eu diria que o potencial é muito grande. Várias empresas já estão olhando esses casos de uso, inclusive a Dasa, explorando quais são as capacidades desse modelo, onde poderíamos usar, mas também olhando quais são os riscos e como podemos mitigá-los, antes da sua implementação prática”, explica o diretor de Inovação Aplicada e Inteligência Artificial na Dasa.
O diretor médico de Saúde e Plataforma Digital da Dasa, Gustavo Pinto, também aposta no potencial do ChatGPT de ser incorporado em diversas áreas da saúde. “Ele pode funcionar como uma ferramenta educacional, disseminando informações de saúde e explicando condições médicas de maneira compreensível. No pós- -atendimento, pode contribuir com orientações de autocuidado e acompanhamento, além de auxiliar na aderência ao tratamento. Também pode funcionar como um suporte emocional extra a pacientes que enfrentam estresse devido a condições médicas”, detalha Gustavo. E completa: “Na esfera prática, o ChatGPT pode ajudar os pacientes a localizar serviços de saúde próximos e monitorar seus sintomas ao longo do tempo, alertando profissionais de saúde quando necessário. Além disso, pode servir como ferramenta de treinamento para profissionais de saúde, oferecendo estudos de caso para análise e atualizações sobre as últimas pesquisas médicas. Inclusive, pode ser empregado na coleta de dados para estudos de pesquisa, sempre respeitando as normas éticas e de privacidade, como a LGPD”.
O doutor Gustavo ressalta, contudo, que apesar de sua eficácia, é essencial lembrar que o ChatGPT não substitui o julgamento clínico de profissionais de saúde humanos. Além disso, a versão atual do ChatGPT pode fornecer informações incorretas em algumas situações, o que ainda limita seu uso para situações em que um profissional de saúde faz a curadoria da informação antes de ser usada pelos pacientes. Por ser uma inteligência artificial, não possui compreensão ou conhecimento real do mundo. Ele gera respostas com base em padrões de texto existentes e pode não ser 100% preciso e atualizado.
** Matéria originalmente publicada na Revista Notícias da Medicina Laboratorial nº 124.