Especialista da SBPC/ML ressalta a importância da especialidade e os desafios na formação especializada
A medicina está constantemente evoluindo, e uma das áreas que vem ganhando destaque é a oncogenética. Essa disciplina inovadora surge como uma valiosa aliada na compreensão dos mecanismos genéticos por trás do câncer, oferecendo insights cruciais para diagnóstico precoce e tratamentos mais eficazes. A oncogenética é uma especialidade dentro da Patologia Clínica, e concentra-se no estudo das alterações genéticas associadas ao câncer, oferecendo uma abordagem precisa para diagnóstico e terapêutica. Sob a liderança de oncogeneticistas, especialistas em decifrar os códigos genéticos de tumores como pulmão, pele e próstata, essa especialidade utiliza testes moleculares para guiar decisões terapêuticas e antecipar prognósticos com base em dados genéticos.
Segundo João Bosco de Oliveira Filho, médico patologista clínico e oncogeneticista, coordenador do Comitê de Genômica da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML), a história da oncogenética remonta décadas, mas sua aplicação clínica ganhou impulso significativo nos últimos 15 anos, impulsionada por avanços tecnológicos que tornaram a análise do DNA mais acessível.
"A revolução tecnológica não apenas facilitou a análise genômica a um custo mais baixo, mas também abriu portas para a descoberta de drogas direcionadas a alterações genéticas específicas, marcando o advento da oncologia de precisão", destacou.
Os progressos na oncogenética são evidentes na avaliação dos tumores, onde, por exemplo, o estudo genético de tumores de pulmão envolve a análise de pelo menos oito alterações genéticas distintas. "Essas informações orientam decisões terapêuticas personalizadas, associando drogas específicas a mutações genéticas específicas, um marco na abordagem do câncer", explicou o oncogeneticista da SBPC/ML, acrescentando que a aplicação da genética não se limita apenas ao tratamento, mas também desempenha um papel crucial no diagnóstico diferencial e na compreensão dos fatores de risco individuais.
Desafios, prevenção, ética e formação especializada
A implementação da oncogenética na prática clínica não está isenta de desafios. A rápida evolução do conhecimento genético supera a capacidade de treinamento dos profissionais de saúde, destacando a necessidade urgente de incorporar conceitos de genética e oncogenética nas residências médicas em patologia clínica. De acordo com João Bosco, coordenador do Comitê de Genômica da SBPC/ML, "é imperativo que os patologistas clínicos se especializem e compreendam a interpretação adequada dos testes genéticos, garantindo uma prática clínica eficaz".
A oncogenética não se limita apenas ao tratamento, mas também desempenha um papel crucial na prevenção do câncer. Ao compreender os fatores genéticos de risco, é possível implementar estratégias de prevenção personalizadas, como modificações no estilo de vida e monitoramento rigoroso para detectar precocemente possíveis malignidades.
O especialista da SBPC/ML revela ainda os desafios no campo da compreensão genética de certos tipos de tumores, como os hepáticos e os sarcomas ósseos. "A compreensão nessas áreas ainda é incipiente, o que acaba sendo uma oportunidade para descobertas futuras. Além disso, o estudo do risco individual para o câncer, embora avançado, apresenta lacunas que requerem esforços contínuos na pesquisa", explicou.
No âmbito ético, segundo João Bosco, as questões relacionadas à análise genética foram amplamente abordadas, com pacientes consentindo explicitamente para a análise de material genético e compreendendo as implicações dos resultados no diagnóstico e tratamento. "No entanto, é fundamental continuar aprimorando o treinamento dos profissionais de saúde para garantir uma aplicação ética e responsável da oncogenética", ressaltou o especialista.
Texto originalmente publicado no jornal LaborNews