Sintomas da fase inicial da doença se confundem a outras infecções. 44% dos casos são de pessoas infectadas em enchentes
As enchentes no Rio Grande do Sul trazem consigo não apenas a devastação, mas também um perigo silencioso: a leptospirose. Essa doença, causada pela bactéria leptospira spp, apresenta vários sintomas, muitas vezes confundidos com outras enfermidades. No Brasil, uma variedade de exames laboratoriais está disponível para auxiliar na identificação precoce da doença, sendo escolhidos de acordo com o tempo de doença e fase evolutiva do paciente. De acordo com o mais recente relatório do Ministério da Saúde (MS) sobre a leptospirose no Brasil, 44% dos casos confirmados estão relacionados à infecção por água ou lama de inundação.
Os sintomas típicos incluem febre alta, dores de cabeça, calafrios, dores musculares, vômitos e icterícia, caracterizada pela pele amarelada e olhos avermelhados. "No entanto, esses sinais podem ocorrer em diversas doenças infecciosas, exigindo atenção especial para o diagnóstico diferencial. "É fundamental considerar o histórico epidemiológico e exposição do paciente para suspeitar da infecção, permitindo assim a solicitação do exame mais adequado para confirmação diagnóstica e, consequentemente, a administração do tratamento específico", alerta Andre Doi, patologista clínico e diretor científico da SBPC/ML.
A principal via de contágio para os humanos é o contato com a urina ou outros fluidos corporais de animais infectados, especialmente ratos, ou com água, solo ou alimentos contaminados por essa urina. De acordo com o especialista, "a bactéria pode penetrar no corpo através da pele ou mucosas como nariz e boca, facilitando a disseminação da doença". Com as enchentes, o risco de contaminação aumenta significativamente. "A água contaminada por urina de ratos infectados torna-se uma fonte potencial de infecção", salienta Doi.
Portanto, medidas de precaução são essenciais para prevenir a doença. Evitar o contato com água contaminada é fundamental, seja nadando ou entrando em áreas alagadas. O uso de vestimentas impermeáveis, como botas e roupas protetoras, é recomendado para evitar o contato direto da pele com água suspeita. Além de ferver a água ou adicionar gotas de hipoclorito de sódio, ou de água sanitária antes de beber e cozinhar. Embora não haja vacina disponível, o tratamento da leptospirose baseia-se na antibioticoterapia. "Em alguns casos, a administração profilática de antibióticos pode ser indicada após exposição à água contaminada", destacou o especialista da SBPC/ML.
Na última segunda-feira (6), a Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul (SES-RS) recomendou a quimioprofilaxia, estratégia de prevenção que utiliza remédios para reduzir o risco de infecção a indivíduos expostos, com avaliação médica. A medida é prevista em notas pelo MS e baseada, inclusive, em um guia de tratamento da Organização Mundial de Saúde (OMS) de 2003. A publicação aponta que profilaxia com antimicrobianos pode ser realizada em situações de alto risco, como a que o estado do Sul vive.