Em outubro, a Divisão de HIV/Aids, Hepatites e DST (DIAHV) do Ministério da Saúde promoveu um encontro com representantes de Sociedades Médicas para debater a elaboração da nova “Agenda de Ações Estratégicas para Redução da Sífilis Congênita no Brasil”, para o biênio 2018-2019. 

Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) estimam a ocorrência de mais de 1 milhão de casos de infecções sexualmente transmissíveis (IST) por dia, em todo o mundo. Ao ano, calcula-se que ocorram aproximadamente 357 milhões de novas infecções, entre clamídia, gonorreia, sífilis e tricomoníase.

As propostas tiveram como eixo central o tema “Resposta rápida à Sífilis nas Redes de Atenção”, que incluem o fortalecimento dessas redes para resposta à doença; grandes ações na área de comunicação; qualificação de informações estratégicas; aumento das parcerias do Ministério da Saúde com outros atores, e ampliação dos comitês de investigação da transmissão vertical de HIV/Sífilis e Hepatites Virais.

A SBPC/ML foi representada pelo patologista clínica Celso Granato. Também participaram representantes de ONGs e das Sociedades Brasileiras de Análises Clínicas, de Pediatria, de Infectologia e de Ginecologia e Obstetrícia.

De acordo com Granato, as sociedades forneceram sugestões a respeito da melhor forma de ampliar o conhecimento dos seus associados sobre a sífilis, no tratamento e no diagnóstico.

“A partir disso, foram propostas várias alternativas que incluem publicações nos periódicos de cada sociedade, inclusão do tema em congressos, cursos à distância e presenciais, entre outras medidas”, conta o patologista clínico.

Atuações coletivas

A agenda apresenta um rol de prioridades voltadas à qualificação da atenção à saúde e ao compartilhamento de responsabilidades. Estabeleceram-se seis eixos de atuação: certificação da eliminação da transmissão vertical do HIV, comunicação em saúde, educação permanente em saúde, qualificação das informações estratégicas, fortalecimento da parceria do Ministério da Saúde com outros atores e ampliação dos comitês de investigação da transmissão vertical do HIV e da sífilis.

 

Celso Granato destaca a educação como o principal eixo de atuação.

 

“Para uma doença conhecida há séculos, para a qual existe diagnóstico e tratamento baratos e disponíveis amplamente, acredita-se que a melhor abordagem seja a didática. As pessoas precisam saber que a doença está ficando muito comum, que é potencialmente grave e como evitá-la. Entretanto, há necessidade de outras medidas e muitas já estão em andamento pelo Ministério da Saúde, tal como a disponibilização ampla e farta de penicilina para o tratamento”, ressalta o médico.

 

Perspectivas para o futuro

Em 2018, o DIAHV irá implantar um projeto de resposta rápida à sífilis nas redes de atenção para reduzir a doença adquirida e em gestantes e, além disso, eliminar a sífilis congênita no Brasil.

 

“Fiquei bastante satisfeito com a reunião e com as sugestões apresentadas, uma vez que as sociedades foram ouvidas, e ideias e sugestões foram trocadas. Agora, há que se partir para as ações propostas e monitorar para avaliar no impacto das medidas”, finaliza Celso Granato.

Avanço da doença

A sífilis afeta 1 milhão de gestantes por ano em todo o mundo, provoca mais de 300 mil mortes fetais e neonatais e coloca em risco de morte prematura mais de 200 mil crianças. Na América Latina e Caribe, estima-se que entre 166 mil e 344 mil crianças nasçam com sífilis congênita anualmente. No Brasil, nos últimos cinco anos foi observado um aumento constante no número de casos de sífilis em gestantes, congênita e adquirida.

Os números alarmantes podem ser atribuídos, em parte, ao aumento da cobertura de testagem, com a ampliação do uso de testes rápidos, redução do uso de preservativo, resistência dos profissionais de saúde à administração da penicilina na atenção básica, desabastecimento mundial de penicilina, entre outros. Além disso, o aprimoramento do sistema de vigilância pode se refletir no aumento de casos notificados.

“As razões são inúmeras. Cabe destacar a falta de medo que as gerações atuais têm do HIV e, consequentemente, da Aids. Consideram que é uma doença crônica, tratável e que não há necessidade de temê-la. A liberdade sexual também contribuiu bastante para isso”, avalia o patologista clínico Celso Granato.

Boletim Epidemiológico de Sífilis 2017, do Ministério da Saúde: aids.gov.br/pt-br/pub/2017/boletim-epidemiologico-de-sifilis-2017