O Comitê Científico de HIV/Aids da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) emitiu um parecer técnico sobre o risco de uma pessoa com HIV/Aids, com carga viral indetectável há, pelo menos seis meses e em uso regular da medicação antirretroviral, transmitir o vírus por via sexual.
Publicado em 18 de janeiro de 2018, o documento original é assinado pelo presidente da SBI, Sergio Cimerman; pelo Coordenador do Comitê Científico de HIV/Aids da SBI, José Valez R. Madruga; e pela Coordenadora do Subcomitê de Terapêutica em HIV/Aids da SBI, Tânia R. C. Vergara.
A seguir, reproduzimos, com autorização da SBI, o texto do parecer e as fontes de referência.
Parecer Técnico – Comitê Científico de HIV/Aids da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI)
Indetectável = Intransmissível
Conforme demonstrado nos estudos HPTN 052 (1), Partner (2) e Opposites Attract (3), o risco de uma pessoa vivendo com HIV/Aids, que esteja com carga viral indetectável há, pelo menos seis meses, em uso regular da medicação antirretroviral, transmitir o vírus por via sexual foi considerado insignificante.
A declaração de consenso internacional foi endossada por investigadores importantes de cada um dos estudos que examinaram a questão e por 500 organizações internacionais (4).
É importante reconhecer que há pessoas vivendo com HIV/aids (PVHA) que, por razões diversas, não alcançam o status de carga viral indetectável. Nesse caso, continuam a transmitir o vírus.
Compreendemos que a terapia antirretroviral (TARV) feita de forma apropriada previne a transmissão, ajuda a reduzir o estigma relacionado ao HIV e serve como estímulo para melhorar a adesão.
Destacamos que, para permanecer com a carga viral suprimida, é necessário que a PVHA mantenha adesão ao tratamento, avalie regularmente a viremia e compareça às consultas médicas conforme agendamento. Estar com a carga viral indetectável em algum momento não é o mesmo que ter sempre a carga viral indetectável.
Entendemos que a TARV adequada é capaz de manter o indivíduo em supressão viral sustentada e torna o sexo desprotegido seguro em relação à contaminação com o HIV, mas não às outras infecções sexualmente transmissíveis, como sífilis, hepatite C, hepatite B, HPV, gonorreia, Chlamydia.
A Sociedade Brasileira de Infectologia está alinhada com os avanços da ciência e endossa, tal qual as maiores organizações internacionais, a questão da segurança em relação a tratamento antirretroviral supressor como forma de não transmissão de HIV. Porém, ressalta a importância da prevenção contra as outras infecções sexualmente transmissíveis, tanto por vacinação, quando disponível, como é o caso da hepatite B e HPV, quanto pelo uso de proteção de barreira.
Referências
- COHEN, M. et al. Antiretroviral Therapy for the Prevention of HIV-1 Transmission. New England Journal Of Medicine, v. 375, n. 9, p.830-839, 2016. Disponível em: <www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa1600693>. Acesso em: 15 jan. 2018.
- RODGER, A. et al. Sexual Activity Without Condoms and Risk of HIV Transmission in Serodifferent Couples When the HIV-Positive Partner Is Using Suppressive Antiretroviral Therapy. JAMA, v. 316, n. 2, p. 171-181, 2016. Disponível em: <https://jamanetwork.com/journals/jama/fullarticle/2533066>. Acesso em: 15 jan. 2018.
- BAVINTON, B. et al. HIV treatment prevents HIV transmission in male serodiscordant couples in Australia, Thailand and Brazil. In: International AIDS Society Conference on HIV Science, 9., 2017, Paris. Abstract TUAC0506LB. Disponível em: <http://programme.ias2017.org/Abstract/Abstract/5469>. Acesso em: 15 jan. 2018.
- HIV Undetectable Consensus Statement – Prevention Access Campaign. Disponível em: <https://www.preventionaccess.org/consensus>. Acesso em: 15 jan. 2018.
São Paulo, 18 de janeiro de 2018.
Sergio Cimerman
Presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia
José Valdez R. Madruga
Coordenador do Comitê Científico de HIV/aids da Sociedade Brasileira de Infectologia
Tânia R. C. Vergara
Coordenadora do Subcomitê de Terapêutica em HIV/aids da Sociedade Brasileira de Infectologia
Fonte: SBI