Entre tantos paradigmas sobre o tratamento do novo Coronavírus, mais um importante está pendente: qual o melhor medicamento para tratar a doença, seja em estado inicial ou avançado? Essa é uma importante questão.

Na palestra “Toxicologia das principais drogas usadas no tratamento para COVID-19”, realizada no 1º Congresso Virtual da SBPC/ML, o diretor científico da Sociedade Brasileira de Medicina Laboratorial, Dr. Alvaro Pulchinelli, falou sobre a eficácia do medicamento Remdesivir.

Aspectos gerais, trata-se de um antiviral de largo espectro, inicialmente usado no tratamento do vírus ebola e percebeu-se que ele poderia ser usado para a COVID-19, por terem semelhanças entre si. Como foram observados bons resultados, protocolos começaram a surgir e as conclusões parciais são muito promissoras, o que estimulou ainda amais a pesquisa com foco nessa droga.

“O Remdesivir é uma pró-droga, não é reativa, ela só será ativada através da metabolização no organismo. A ação do medicamento bloqueia a replicação do vírus mesmo em baixas concentrações”, explicou o Dr. Alvaro.

De acordo com o médico, é preciso lembrar que alguns pacientes têm o trato digestório acometido pela COVID-19, então essa sintomatologia é um fator que impede a administração do medicamente por via oral e a opção é que seja de maneira intravenosa ou subcutânea, uma vez ao dia.

Os protocolos atuais sugerem a dosagem de 200mg, com manutenção de 100mg, e o tratamento pode durar entre 7 e 14 dias (período em análise). O Remdesivir deve estar associado a outros antibióticos, normalmente é prescrito com a Azitromicina. “Ao contrário de outras drogas, o Remdesivir, mesmo com a doença em curso, mostra resultados positivos, mesmo nos pacientes em estado grave”, explicou o médico.

Falando sobre os aspectos toxicológicos, na fase I, 5% dos sujeitos de pesquisa tiveram reações adversas, como flebite, constipação, cefaleia, equimoses, náuseas, dores nas extremidades, aumento transitório das enzimas hepáticas, tempo de protrombina e hiperglicemia. Os pacientes portadores da doença apresentaram erupção, diarreia, hipotensão, disfunção hepática anormal e insuficiência renal.

A função hepática se mostrou alterada por um aumento de cinco vezes das enzimas hepáticas. A função renal pode cair até 50% da taxa de filtração glomerular, ou seja, esse medicamento só pode ser administrado em ambiente hospitalar, sempre com o acompanhamento clínico laboratorial muito restrito.

As pulações especiais não foram avaliadas, portanto, não há uma segurança na prescrição do medicamento para idosos, gestantes e crianças. Quanto às interações medicamentosas, elas são possíveis. Sobre os marcadores toxicológicos habituais, a dose letal 50 (DL50) e conduta na superdosagem não estão estabelecidos ainda. “Não há relatos de superdosagem, visto que não é vendido no comercio”, concluiu Alvaro.

O 1º Congresso Virtual da SBPC/ML tem trazido muitas informações de extrema importância sobre o que o setor de Medicina Laboratorial está fazendo a fim de estudar e entender melhor sobre o novo Coronavírus e contribuir para o tratamento de tantas pessoas que sofrem com a doença.

O Dr. Luiz Vicente Rizzo, diretor do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein, trouxe uma importante contribuição, quando falou sobre o tema Repositório COVID-19 Data Sharing/BR: o primeiro repositório de dados para pesquisa sobre COVID-19 do Brasil”.

Na ocasião, ele apresentou o repositório de dados COVID-19, uma iniciativa pioneira que a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) montou, com o gerenciamento da Universidade de São Paulo (USP) e a participação do Grupo Fleury e os Hospitais Sírio Libanês e Hospital Israelita Albert Einstein, com o objetivo de compartilhar dados de alta relevância, a fim de gerar informações não só para um grupo restrito de especialista, mas para outros que têm os mesmos interesses.

“Isso é absolutamente fundamental. Quando permitimos que outros vejam nossos resultados, também adquirimos conhecimento e nos aprimoramos”, explicou o médico.

Já são dois trabalhos publicados com os dados colocados nessa plataforma.

“Temos a impressão de que as pessoas que analisarão os dados conseguirão ver coisas que talvez nós não enxerguemos. Estamos monitorando com muito cuidado essas análises externas publicadas, e isso tem sido útil para melhorar ainda mais nosso desempenho”, afirmou Luiz.

Ainda de acordo com o Dr. Luiz, atualmente, as três instituições juntas possuem um conjunto de dados composto por 120 mil pacientes testados para COVID-19. “Usamos esses dados com uma frequência bastante razoável. O Einstein publicou mais de 50 trabalhos em resposta à pandemia de COVID-19 em diversas áreas do cuidado com a saúde”, explicou o doutor.

O médico ainda diz que a possibilidade de compartilhar abertamente na internet essas informações fará com que os dados sejam cada vez mais úteis para a humanidade. É importante ressaltar que se trata de um ambiente extremamente seguro e a privacidade dos pacientes preservada. O site é o https://repositoriodatasharingfapesp.uspdigital.usp.br/ .

Por esta nova mídia, dois trabalhos já firam publicados, o que é uma coisa importante.

“Um deles é foi relacionado a computação, que analisou como conseguimos produzir tantos dados de um indivíduo só, ou seja, somente uma pessoa é capaz de produzir alguns terabytes de informação”, afirmou Luiz.

O especialista afirma que “uma das poucas coisas que ganhamos nessa pandemia é o entendimento de que só teremos o melhor desfecho para a humanidade trazendo para a discussão todos os possíveis atores e fatos científicos. Isso por si só é algo bom diante de um cenário horroroso de tantas mortes. Outra vantagem é dividir com outras instituições que gostariam de participar conosco de um processo de excelência de obtenção e curadoria de dados”, concluiu.

O 1º Congresso Virtual da SBPC/ML trouxe uma palestra dedicada a esclarecer pontos relevantes sobre o teste RT-PCR, considerado o padrão ouro quando utilizado para o diagnóstico do SARS-CoV-2. As informações foram passadas pelo diretor de operações do Grupo Pardini, Dr. Guilherme Collares, ao apresentar o tema “Testes moleculares para COVID-19: do pré ao pós-analítico”.

O médico explicou que o RT-PCR é o teste de escolha para os pacientes que estão na fase aguda da doença e deve ser realizado o mais precocemente possível, até 14 dias (preferencialmente entre o terceiro e quinto dia do início dos sintomas).

“É importante ressaltar que todo exame laboratorial deve ser complementar a uma clínica bem-feita. Em uma suspeita forte de infecção da COVID-19, o teste negativo deve ser realizado novamente um ou dois dias depois. Com um resultado repetidamente negativo, a infecção é excluída, sendo positivo, se confirmará a doença”, explicou Guilherme.

O exame RT-PCR pode dar negativo, por vários fatores, entre eles os pré-analíticos, nos quais se enquadram a coleta inadequada, contendo pouco material do paciente, além da conservação e transportes inadequados da amostra. Os fatores analíticos, envolvem possível mutação viral, presença de inibidores de PCR na amostra ou carga viral abaixo do limite de detecção do teste. Já os fatores biológicos dependem do tipo de material usado sendo a positividade maior em amostras do trato respiratório baixo; do período em que as amostras foram coletadas e da flutuação da carga viral.

Outra utilidade do teste é no rastreamento da doença em contatos de pacientes com diagnóstico. De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), o contato com qualquer pessoa com diagnóstico de COVID-19, com uma distância de até seis pés, ou dois metros, por mais de 15 minutos no período de dois dias antes do aparecimento de sintomas até o final do isolamento deve ser testada.

Sobre os protocolos de abertura, o Dr. Guilherme disse que as pessoas que não tiveram sintomas e nem contato com infectados também podem ser testadas, com o objetivo de barrar a doença em áreas de transmissão comunitária, como por exemplo, no caso de não ser possível manter o distanciamento.

Também podem ser feitos em trabalhadores que encontram-se, em áreas remotas de trabalho e que a avaliação médica ou tratamento não podem ser feitos no tempo adequado, aos profissionais que atuam nos serviços de alta prioridade e que não podem ser descontinuados, além dos locais de trabalhos em que os profissionais ficam alojados, como fazendas e plataformas de petróleo.

Diante disso, como testar? O especialista afirma que o ideal seria testar periodicamente, inclusive os novos colaboradores e os que estão voltando de uma ausência prolongada.

“Tudo depende da disponibilidade do teste, do tempo de latência (pelo menos sete dias) semanal e locais com alta taxa de infectados”, afirmou o médico.

O doutor ainda acrescenta outro fator de extrema importância.

“Mas mais importante do que isso, antes de testar um grande número de trabalhadores assintomáticos, sem exposição ou suspeita, é recomendado que os empregadores tenham um plano de como eles irão modificar as operações com base nos resultados dos testes”, concluiu Guilherme.

O 1º Congresso Virtual da SBPC/ML recebeu o italiano Mario Plebani, médico e professor Titular de Bioquímica Clínica e Biologia Molecular Clínica Universidade de Padova, Faculdade de Medicina que, na ocasião, proferiu a palestra “Ensaios Sorológicos: SARS-CoV-2, anticorpos e atividades neutralizantes”.

O médico salientou que a história natural dos ensaios sorológicos para anticorpos SARS-CoV-2 é comparável à de outros biomarcadores: após uma ênfase inicial e excessiva no papel diagnóstico dos ensaios sorológicos, uma série de artigos levantaram sérias preocupações sobre sua utilidade clínica, finalmente levando a mais identificação racional e baseada em evidências das principais áreas de uso clínico, associada a uma melhor validação metodológica.

A justificativa multifacetada para o teste sorológico no manejo da COVID-19 deve ser resumida da seguinte forma:

  1. a) para melhorar o conhecimento sobre a resposta imunológica ao SARS-CoV-2;
  2. b) definir e monitorar a extensão da disseminação do vírus;
  3. c) para rastrear determinadas populações e subpopulações em maior risco (por exemplo, profissionais de saúde) e definir a prevalência da doença;
  4. d) caracterizar a eficácia das medidas de contenção em nível local e global;
  5. e) para rastrear soros convalescentes para uso terapêutico e profilático;
  6. f) combinar os resultados dos testes moleculares (RT-PCR) para um diagnóstico mais preciso (em “pacientes difíceis”);
  7. g) permitir o diagnóstico para fases posteriores da infecção (quando o vírus foi eliminado);
  8. h) para identificar indivíduos que foram infectados, mas sofreram apenas sintomas leves (ou assintomáticos) e não procuraram atendimento médico;

De acordo com o Dr. Mario, do ponto de vista metodológico, as principais questões são representadas pelo tipo de exame (laboratorial, pontos de atendimento e / ou atividade neutralizante); o alvo (proteína de pico e / ou subunidades S1 / S2, nucleocapsídeo, proteína de ligação ao receptor (RBD), antígeno nativo, entre outros) e a classe ou classes de imunoglobulinas (IgA, IgG, IgM) reconhecidas pelo ensaio.

Para ele, outra questão fundamental é a relação entre os anticorpos SARS-CoV-2 detectados por imunoensaios e a atividade de neutralização. Deve-se ressaltar que os anticorpos medeiam os efeitos antivirais por meio de vários mecanismos, incluindo efeitos antimicrobianos diretos, como neutralização viral, citotoxicidade celular dependente de anticorpos, ativação do complemento e modulação da resposta inflamatória.

No entanto, a relação entre os anticorpos circulantes e a atividade de neutralização desempenha um papel fundamental para entender melhor qual (is) alvo (s) (RBDTesting, subunidade S1 / S2 da proteína spike e / ou nucleocapsídeo) devem assegurar melhor uma correlação valiosa com títulos neutralizantes.

 As estratégias atuais para usar anticorpos SARS-CoV2 visam maximizar a especificidade e, portanto, o valor preditivo positivo (PPV), particularmente porque a prevalência geral é provavelmente baixa. Devem ser resumidos como: 1) Escolha de um teste com uma especificidade muito alta (95% ou mais); 2) Teste de foco com uma alta probabilidade de pré-teste (por exemplo, histórico de doença COVID-19) e 3) Empregue um algoritmo de teste ortogonal (pessoas positivas testadas com um segundo teste).

As iniciativas de padronização/harmonização para melhorar a comparabilidade clínica dos resultados obtidos por diferentes ensaios baseiam-se atualmente na otimização dos limiares diagnósticos (cut-offs) e na definição dos valores preditivos positivos e negativos (PPV / NPV) em relação a uma prevalência de doença diferente.

 “Na verdade, levantamentos epidemiológicos destacaram variações significativas na soroprevalência, variando de 2-3% a 40-50% em diferentes áreas regionais ou nacionais. O conhecimento da cinética do anticorpo representa uma questão essencial para definir o momento certo para identificar a resposta imune e para entender melhor a duração da proteção. Este, por sua vez, desempenha um papel relevante na avaliação da resposta às terapias e vacinas, mesmo que as pesquisas atuais sobre a resposta imunológica devido aos linfócitos B e T possam fornecer informações úteis para melhor compreender a resposta do hospedeiro ao “misterioso” SARS-CoV- 2”, finalizou Mario.

Ao longo da história, a tecnologia nunca foi tão utilizada no atendimento médico como nesta pandemia da COVID-19. A urgência no diagnóstico exigiu que os médicos fizessem os atendimentos remotamente por vídeo e por telefone. Assim, o que antes era pouco utilizado possivelmente será uma alternativa ainda mais segura na prática médica nos próximos anos.

Essa foi uma das afirmações da Dra. Daniella Kerbauy, Diretora Médica do Grupo Fleury, durante a palestra “O laboratório pós-COVID: mudanças que vieram para ficar”, ministrada no 1º Congresso Virtual da SBPC/ML. No início da apresentação, ela explicou que, no final de 2018, o Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou a resolução 2227, que regulamenta a telemedicina nas diferentes formas e instâncias. Porém, após algumas polêmicas, a resolução foi revogada.

Entretanto, para mostrar o quanto esse canal é importante, ela destacou um artigo publicado no New England Journal of Medicine, no qual define o Telehealth, ou o TeleSaúde, como o uso da informação médica que é trocada de um sítio a outro por comunicação eletrônica para melhorar a saúde do paciente. “Assim, o foco da definição está no cuidado com o paciente”. Nota-se que 60% das instituições de saúde dos Estados Unidos utilizam uma forma de Telemedicina e de 40% a 50% dos hospitais também.

Hoje os médicos se utilizam de várias ferramentas para consultar e trocar informações com os pacientes, como a própria Telemedicina, WhatsApp, vídeo chamadas, mensagens de textos, e-mails, entre outros, auxiliando a assistência dos pacientes portadores de doenças crônicas e/ou os que necessitam de ajuda psicológica.

“O uso da tecnologia está presente no nosso dia a dia na medicina diagnóstica em diversas especialidades, com as imagens compartilhadas na Radiologia e também na hematologia, fazendo com que, de maneira remota, possa se auxiliar no diagnóstico de doenças como a leucemia, em pacientes que vivem em locais carentes de profissionais especializados, permitindo que a agilidade no diagnóstico dê a oportunidade de um tratamento rápido e eficaz”, afirmou Daniella.

A palestrante apontou algumas tecnologias utilizadas pelo Grupo Fleury durante a pandemia que auxiliaram no atendimento rápido a pacientes com suspeita e também no diagnóstico dos infectados pela COVID-19, como o a plataforma para oferecer, gratuitamente, uma segunda opinião médica às radiografias e tomografias de tórax, também o Cuidar Digital e o Telecorona Solidário.