Coordenada pela Dra. Paula Fernandes Távora, ex-presidente da SBPC/ML e sócia fundadora e diretora médica da Vacsim, a mesa redonda “Inteligência artificial em Medicina Laboratorial: exemplos práticos”, realizada no dia 10/9, trouxe uma série de informações importantes de como os laboratórios brasileiros têm usado a Inteligência Artificial (IA) como um protagonista na maior agilidade e precisão diagnóstica dos pacientes, bem como oferecer serviços personalizados a cada um deles. O Machine Learning foi outro ponto forte abordado.  

O bacharel em Estatística pela Universidade de São Paulo e mestre em Economia de Empresas pela FGV-SP, Hommenig Scrivani falou sobre o Impacto da IA na jornada do paciente”. Ele explicou que a IA se faz da inteligência humana e o desenvolvimento é feito de maneira artificial.  

Um exemplo simples: um paciente chega ao hospital e a atendente faz a triagem, as perguntas básicas e direciona a pessoa para um guichê específico. Usando a IA, ao utilizar um totem, o paciente pode responder a essas perguntas com apenas toques e já ser direcionado ao guichê correspondente. 

Em outra situação, no caso de um paciente com câncer de próstata, pode-se desenvolver um Machine Learning para entender o caso dele. Assim, será mostrado o volume prostático por meio de algoritmos que auxiliarão o médico no diagnóstico. 

“Fazer a operabilidade de dados ajuda tanto o médico quanto o paciente. Eles mostram a idade, gênero, respostas da saúde mental e exames realizado anteriormente. O paciente pode receber um alerta para repetir exames no momento necessário a pedido do médico por meio de uma ativação feita pelo profissional” destacou Hommenig. 

Edson Amaro, especialista do Hospital Albert Einstein, explanou sobre o “Uso da IA no ambiente hospitalar”. Ao iniciar sua apresentação, ele salientou que a indústria de telecomunicação, entretenimento e financeira já atuam com Big Data há alguns anos, porém a área da saúde a saúde ainda está atrasada na adoção de novas tecnologias. 

Sobre o uso da tecnologia na saúde, ele mencionou sua própria experiência.

“No Einstein, visamos três esferas centradas no indivíduo: a biologia, quando focamos em dados relativos a microbiomas, DNA, RNA, metaboloma e organismos que estão conosco; ambiente, baseado nas relações do dia a dia com o meio ambiente, nível de educação do indivíduo, contexto socioambiental, populações com menos acesso ao transporte, comportamento, relações dos pares dentro das redes sociais, dados nutricionais; e comportamento, ou seja, a relação com o contexto externo, polifarmácia, quantidade de medicamento de acordo com o comprometimento do paciente”, explicou o especialista. 

“O nosso comportamento é muito registrado pelos ambientes digitais, como no caso do Google e da Netflix, e em saúde isso é fundamental. A ideia estratégia no uso de Big Data visa organizar a iniciativa para extrair valor de dados da cadeia de saúde e o uso médico dessas ferramentas requer uma curva de aprendizado do médico. Nada vai fazer sentido se o médico não for treinado e não estiver confortável com essas ferramentas. Ele precisa ter uma cultura de uso de dados”, acrescentou Edson. 

Sobre Analytcs, o profissional diz que é possível se ter uma ideia do que vai acontecer, porém, pondera: “não é fácil tomar decisões hoje a partir do que pode acontecer no futuro”. 

Ao longo da Mesa Redonda, foi feita a apresentação do “Desenvolvimento de sistema de redes neurais convolucionais profundas para identificação de células em sangue periférico”, por Paulo Henrique Orlandi Mourão, médico Patologista Clínico Hospital das Clínicas da UFMG – Ebserh. 

Ele salientou que essas redes se tornaram mais populares em 2021. Este ano, uma rede convencional chamada ImageNet, comporta de 100 classes de imagens, participou de uma competição e venceu por uma diferença grande em relação a outros sistemas baseados em outras tecnologias e isso acendeu um interesse significativo nas redes neurais convencionais. 

“Em 2017, o vencedor da competição teve um erro de 2,3%. Em comparação a um humano, o erro é em torno de 5%. Nessas competições, a participação dessas redes é melhor do que de humanos. A área médica tem tido um vasto interesse e de uma forma geral os artigos mostram que essas redes têm um desempenho equivalente a experts da área”, destacou Paulo. 

Por fim, diretor Executivo de TI, Inovação e Digital do Grupo Hermes Pardini, João Vicente Alvarenga, falaram sobre “IA e ferramentas de Analytics na gestão de laboratórios clínicos”. Ele apontou que hoje, 89% dos exames do laboratório são 100% automatizados. Por mês, são processados 16 milhões de exames sem erro e sem o Machine Learning isso seria impossível. 

“Ao longo dos últimos três anos desenvolvemos outras aplicações de IA para covid-19 com exames de imagem, o que gerou a primeira parceria da Google com raio x e ressonância magnética. Isso pode não fazer muto sentido agora, mas no início da pandemia faltavam reagentes para exames estratégicos”, explicou João Vicente. 

Outro exemplo é o Protocolo Stroke (AVC), uma IA de detecção do que é ou não um AVC hemorrágico. Parece algo simples, mas pode salvar vidas. Há outros tipos de inteligência usada hoje, que atende 6.000 laboratórios com seus códigos específicos. 

“Antes gastava-se muito tempo para fazer a correlação do parceiro e a IA automatizou isso acontece em segundos”, comentou o diretor. 

Alvarenga finalizou sua apresentação falando sobre a aposta do Grupo Pardini. 

“É a medicina personalizada, um tratamento específico para cada paciente. Hoje, temos condições, por meio de Machine Learning, de obter históricos do paciente e isso permitirá fazer o cruzamento de dados para encontrar achados científicos em exames que ele fez ao longo da visa com laudos atuais. E isso permitirá oferecer um tratamento personalizado e ações preventivas para o paciente”, explicou João Vicente.

A Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML) anuncia os títulos dos Temas Livres premiados durante o seu 2º Congresso Virtual. A premiação de cada trabalho foi de R$1.000,00 e os autores e coautores ganharão a inscrição para o 54º Congresso Brasileiro de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial, que será realizado de 3 a 7 de outubro de 2022, no Centro de Convenções Centro Sul, em Florianópolis (SC). 

“Por mais um ano, recebemos trabalhos de altíssima qualidade. Aproveito a oportunidade para elogiar e agradecer a todos os que participaram e que, ainda que não tenham sido contemplados nesta edição, poderão apresentar novos títulos no próximo congresso. Sem sombra de dúvidas, os trabalhos serão muito enriquecedores para a toda a Patologia Clínica e Medicina Laboratorial”, explicou a Dra. Silvana Maria Eloi Santos, coordenadora dos Temas Livres do evento.

Confira abaixo a lista dos trabalhos vencedores e os respectivos prêmios recebidos:

Título: Impacto na vigilância epidemiológica com a implementação do teste de o.k.n. nas áreas assistenciais de um complexo hospitalar.

Autora: Aline Fossá.

Coautores: Everton Inamine, Cristiani Gomes de Marques, Cláudia Figueiredo de Meirelles Leite, Camila Mörschbächer Wilhelm, Jéssica Nesello dos Santos, Juliana de Alexandria Machado, Ionara Ines Kohler.

Instituição: Santa Casa de Misericórdia, Porto Alegre.

Prêmio: Prêmio Dr. Caio Marcio Figueiredo Mendes.

 

Título: Análise de mediadores imunes circulantes em pacientes com insuficiência renal aguda (IRA) secundária à COVID-19.

Autora: Thalia Medeiros Tito Avelar.

Coautores: Gabriel Macedo Costa Guimarães, Fabiana Rabe Carvalho, Renan da Silva Faustino, Ana Carolina Campi Azevedo, Vanessa Peruhype Magalhaes Pascoal, Jorge Reis Almeida, Andrea Alice da Silva.

Instituição: Universidade Federal Fluminense .

Prêmio: Prêmio Dr. Paulo Guilherme Cardoso Campana.

 

Título: Uso de formulário virtual para melhoria de gestão da qualidade de glicosímetros.

Autora: Raquel Weber.

Coautores: Juliana de Paoli, Marilei Wolfart, Daniel Writzl Zini, Ricardo Machado Xavier.

Instituição: Hospital de Clínicas de Porto Alegre.

Prêmio: Prêmio Dr. João Nilson Zunino.

 

Título: LDL oxidada circulante prediz risco de eventos cardiovasculares adversos maiores em homens com diabetes mellitus tipo 2.

Autora: Viviane Sant Anna.

Coautores: Esteferson Fernandes Rodrigues, Henrique Andrade Rodrigues da Fonseca, Magnus Gidlund, Maria Cristina de Oliveira Izar.

Instituição: Universidade Federal de São Paulo.

Prêmio: Prêmio Dr. Evaldo Melo.

 

Título: Estimativa de custos dos exames coloração de Gram e hemocultura no serviço de microbiologia de um hospital público federal.

Autora: Isadora Bevilaqua Fernandes.

Coautores: Thaís Guimarães de Faria, Luiz Henrique Furbino de Britto, Leonardo de Souza Vasconcellos, Juliana Alvares.

Instituição: Serviço de Medicina Laboratorial do Hospital das Clínicas da Universidade de Minas Gerais (HC/UFMG).

Prêmio: Prêmio Dr. Luiz Gastão M. Rosenfeld.

 

Título: Estudo de sensibilidade e especificidade de metodologias para pesquisa de anticorpos IgG anti-RBD do SARS-CoV-2.

Autora: Claudia Maria Meira Dias.

Coautores: José Fernando de Souza, Annelise Correa Wengerkievicz Lopes, Vanessa Vidotto Frade, Gabriela Laginestra Francisco, Daniane Grando Remor Canali, Deise Waltrick, Renata Gonçalves.

Instituição: Dasa

Prêmio: Prêmio Dr. José Carlos Basques.

O 2º Congresso Virtual da SBPC/ML promoveu, ontem (8/9), a palestra “Sequenciamento genético de nova geração”, apresentada pelo Dr. José Eduardo Levi. O médico iniciou comentando que os sequenciadores automatizados começaram a ser utilizados a partir dos anos 2.000. 

De acordo com o médico, o custo do sequenciamento vem caindo exponencialmente em comparação com o custo dos computados. Um sequenciador hoje é capaz de ler 10 bilhões de bases em uma corrida. 

“Uma corrida sequenciaria um genoma humano em 48h. Antes, levava-se anos. É uma evolução gigantesca que permitiu a incorporação do Sequenciamento de Nova Geração (NGS) na rotina”, explicou o médico.

O cell-free DNA, em quantidade pequena, é identificado apenas por técnicas moleculares específicas. Usando a tecnologia de sequenciamento para o pré-natal não invasivo, conforme estudo apresentado pelo especialista, é possível analisar os genes do feto no plasma da mãe. Para isso, é preciso ter pelo menos 10% de DNA do feto. Na detecção de patógenos o desafio é maior, pois é necessário trabalhar com sensibilidades elevadas.

O NIPT se baseia na descoberta de que no plasma da gestante é possível encontrar o DNA do feto – cerca de 11% do DNA apresentado é proveniente do feto, podendo ser aplicável ao diagnóstico intra-útero de Síndrome de Down, por exemplo.

Considerando-se a utilização dessas tecnologias no transplante de órgãos, o órgão transplantado libera DNA para a corrente sanguínea do receptor, podendo ser identificado pelo plasma. A danificação do órgão transplantado é demonstrada pela elevação do cell-free DNA.

Na noite de ontem (8/9), o Dr. Ismael Dale Cotrim Guerreiro da Silva deu uma aula aos participantes do 2º Congresso Virtual da SBPC/ML sobre “Proteômica e Metabolômica”. O especialista explicou que quando estudamos genômica, analisamos o que pode acontecer, ou o que queremos predizer sobre uma doença.

A proteômica relaciona-se com algo que faz acontecer, ou seja, são as proteínas fazendo acontecer. A metabolômica é a mensuração do que de fato aconteceu, ou seja, estamos mensurando o fenótipo. Hoje se faz a fenotipagem bioquímica das pessoas. 

Ele mencionou sobre a existência, hoje, de bases da literatura no quesito mensuração. Isso quer dizer, por exemplo, que quando é medida a alanina já existe uma equivalência na literatura quanto aos valores aceitáveis. É como se fosse dosar a hemoglobina: essa mensuração usa plasma, soro, tecido cultivo celular, mas no dia a dia o mais usado é o plasma ou soro.  

Coloca-se as amostras na máquina, pulsiona uma energia forte a laser, ioniza as moléculas presentes nas gotas de plasma de modo que sai de um polo a outro, voando ao polo detector. 

“Isso leva um tempo e cada molécula analisada tem um período de voo, de acordo com os fragmentos gerados, e uma intensidade de batida no detector. Assim, nesse tempo, os fragmentos das moléculas analisadas poderão ser mensurados”, explicou o médico. 

Sobre a espectrometria de massa, o Dr. Ismael disse que é uma balança que mede com precisão o “peso” dos íons de determinada substância. Essa abordagem é usada no mundo todo e acerca da fenotipagem bioquímica, ele exemplifica com o teste do pezinho, realizado milhões de vezes atualmente.

Durante a Mesa Redonda “Evolução dos testes laboratoriais para COVID-19”, realizada no 2º Congresso Virtual da SBPC/ML, o Dr. Julio Croda iniciou dando um panorama geral do curso da vacinação no Brasil. Ele mencionou que antes se imaginava que para se chegar à imunidade de rebanho seria necessário que 70% da população estivesse vacinada. Hoje, percebe-se que se faz necessário que pelo menos 90% esteja.

Neste momento, observa-se predomínio da variante Delta na União Europeia e no Reino Unido, porém as taxas de óbitos não estão altas e ele atribui este fato à vacinação. Ele ressaltou, também, que ao longo da pandemia o Brasil foi um País muito afetado. No entanto, neste momento tem cerca de 65% da população vacinada com pelo menos uma dose, o que o equipara ao México e o coloca em melhor condição no panorama mundial. 

“Desde o início da emissão do boletim da Fiocruz, esse é o melhor cenário do País. Um estado apenas tem mais de 80% de taxa de ocupação de leitos. Somente dois estão em amarelo e os demais em verde. Isso se deu porque as vacinas funcionam e reduziram muito os óbitos”, explicou o médico. 

Ele finalizou a apresentação falando sobre a circulação da variante Delta em especial no Rio de Janeiro, apontando que o estado mostrará como será o comportamento dessa variante nos próximos dias e meses.

A Dra. Annelise Correa Wengerkievicz Lopes falou sobre a “Pesquisa de antígenos: desempenho e aplicabilidade”. São testes baseados na detecção de proteínas virais especificas e se aplicam a diagnóstico de infecção atual, em coleta nasal ou de nasofaringe.  

Os testes de antígeno às vezes são vistos com certo nível de reserva por conta de desvantagens, como a sensibilidade inferior ao RT-PCR. Outro ponto é a necessidade de uma amostra dedicada, em geral não podendo ser reutilizada para pesquisa de outros vírus ou sequenciamento viral.

“A vantagem é que tem baixo custo, resultado rápido e elevada especificidade, portanto um resultado positivo só deve ser confirmado se realmente não combina com o quadro clínico do paciente”, explicou Annelise. 

O Dr. João Renato Rebello Pinho palestrou sobre o “Testes moleculares e as novas variantes”, comentando sobre as Variantes de Interesse (VOI) e as Variantes de Preocupação (VOC). 

Ele explicou que “as variantes de preocupação reconhecidas atualmente são a Alfa, Beta, Gama e Delta, e o sequenciamento completo para o SARS-CoV-2 tradicionais é o método mais seguro para identificação”.  

O Dr. Celso Granato fez importantes apontamentos sobre os “Testes de resposta vacinal”, bem como a duração dos anticorpos neutralizantes após a infecção por COVID-19 que com base em estudos, é de pelo menos sete meses.  

O médico disse que um artigo da revista Nature mostrou que “para a pessoa vacinada e não doente, mesmo que seja realizado o teste de neutralização em cultura de célula, o nível é altamente preditivo de proteção imune. Isso será importante para avaliar, por exemplo, a comparação da eficácia da vacina Butanvac, tendo por base a produção de anticorpos neutralizantes”. 

Por fim, a Dra. Eliane Aparecida Rosseto Welter falou sobre os “Testes sorológicos e estratégias de testagem”, momento em que salientou que essas estratégias são basicamente as de pesquisa e epidemiologia na busca do correlato protetor imunológico, com o papel de marcador de proteção. 

“Entre os tipos de testes de anticorpos estão os de ligação, que se unem à proteína purificada e os de anticorpos neutralizantes, que avaliam a capacidade funcional. Entre os neutralizantes, existem diferentes tecnologias, como pseudovírus e os de neutralização competitiva, que são um substituto aprovado pelo FDA. Ele faz uma avaliação correspondente”, explicou a médica.

Ainda segundo a médica, hoje o desafio são as variantes de preocupação. Por fim, salientou que para a estratégia de testagem não existem diretrizes até o momento que recomendem após vacinação.