“Rastreio do câncer de colo uterino por testes moleculares” foi debatido durante o 54º Congresso Brasileiro de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (CBPC/ML) demonstrando que os testes moleculares, como o PCR, são mais eficientes na prevenção do câncer do colo uterino que o tradicional Papanicolau, que é o exame citológico.

De acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer do colo do útero é o quarto tipo mais comum entre as mulheres (exceto os casos de pele não melanoma), com aproximadamente 530 mil novos casos por ano em todo o mundo. É responsável por 265 mil óbitos por ano, sendo a quarta causa mais frequente de morte por câncer em mulheres. No Brasil, a mortalidade é de 6.385 por 100 mil mulheres por ano, especialmente na faixa estaria de 40 a 49 anos.

Melhorar a prevenção, rastreamento é sempre a melhor forma de diminuição dos agravos causados pela doença. No entanto, no Brasil o exame mais usado para o diagnóstico ainda é o Papanicolau. “Para se ter uma ideia, nos Estados Unidos, a pesquisa molecular de HPV de Alto Risco foi incluída nos protocolos de rastreio desde 2012, comenta a Dra. Leticia Katz, Diretora de Programa de Saúde Pública da Sociedade Brasileira de Citopatologia. “No Brasil, não só o exame utilizado, mas a jornada da paciente após um exame positivo, é uma grande preocupação, por conta da complexidade e o pouco acesso ao sistema de saúde brasileiro”, comenta.

A palestrante Katia Luz Torres, Diretora de Ensino e pesquisa da Fundação Centro de Controle de Oncologia do Amazonas, compartilhou sua experiência em um trabalho de campo com o rastreamento de cerca de 400 mulheres ribeirinhas. Na amostra foram encontrados dois casos de câncer de colo de útero, considerada uma alta incidência, e que iniciativas dessa natureza poderiam ser um avanço na disseminação do avanço da doença em sua forma mais letal.

José Eduardo Levi, pesquisador do Instituto de Medicina Tropical (Lab. de Virologia) da Universidade de São Paulo e P&D da Dasa, comentou que os testes moleculares são ideais para serem feitos em larga escala, pois são mais automatizados, diminuindo as chances de erro e melhorando rapidez do diagnóstico e confiabilidade do exame. “Como o rastreamento do câncer do HPV deveria ser feito em toda mulher na faixa etária recomendada, usar o exame molecular, que é um teste muito mais sensível, melhoraria a sensibilidade de diagnóstico”, argumenta. 

Para Neila Maria de Góis, Presidente da Comissão Nacional Especializada no Trato Genital Inferior da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), os médicos ginecologistas deveriam atentar ainda para a faixa etária de solicitação do exame, uma vez que solicitar ao adolescente, que frequentemente demonstra infecção pelo HPV rapidamente clareada pelo sistema imune, e que poderia ser um desperdício de esforços ao sistema e tratamentos desnecessários. “É preciso observar diretrizes e recomendações de rastreios”, segundo ela. 

Para o patologista do Laboratório de Genética Molecular do Laboratório Clínico do Hospital Israelita Albert Einstein, Luiz Gustavo Cortes, comenta que “é necessária uma construção do paradigma para migrar para o PCR de HPV”, pois o Sistema de Saúde no Brasil ainda é baseado no Papanicolau, teste rudimentar e que depende muito da interação humana. 

Annelise Correa Wengerkievicz Lopes, médica patologista clínica e Diretora de marketing e comunicação da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML) e Gerente médica executiva da Dasa em Florianópolis comenta que ainda hoje existe um grande número de solicitações de captura hibrida, o primeiro teste molecular a ser disponibilizado no início dos anos 2000, mas que o PCR tem a vantagem de ser  diferenciar os subtipos de HPV 16 e 18, que são os mais oncogênicos, e conter controle interno de reação, que garante que havia material biológico e a reação transcorreu como deveria.  “Por isso, o PCR deveria ser considerado o método de predileção para rastreio populacional do HPV”, finaliza.

Ontem (06/10/2022), os Drs. Celso Granato, diretor Clínico do Grupo Fleury e professor livre docente da Escola Paulista de Medicina (Unifesp), Gustavo Barra, Farmacêutico clínico-industrial, Doutor em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília (UnB) e Coordenador do setor de genômica do Sabin Medicina Diagnóstica, José Eduardo Levi, coordenador do Comitê de Diagnóstico Molecular da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML), e João Renato Rebello Pinho, Professor Livre Docente de Gastroenterologia na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Médico do Departamento de Patologia Clínica do Hospital Israelita Albert Einstein, foram os convidados do 54º Congresso Brasileiro de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (CBPC/ML) para falar sobre a “Experiência brasileira no diagnóstico molecular de SARS-CoV-2 (covid-19): passado, presente e futuro”. 

O Dr. Celso Granato apresentou sua experiência no laboratório Fleury, na pesquisa de anticorpos para covid-19. Os testes sorológicos tradicionais, que surgiram na metade de 2020 e que foram usados no laboratório Fleury, eram da Roche e Abbott. Foram padronizados com amostras de pacientes que tinham PCR positivo. De acordo com os dados do laboratório Fleury, 83% das pessoas apresentaram anticorpos detectáveis após uma semana de infectadas pela covid-19; 89% praticamente após duas semanas; 92,7% após três semanas e 95,1% após quatro semanas. “Isso foi feito bem no começo da pandemia, quando a maior parte das pessoas tinha a forma grave da doença. 

“Existe uma preocupação com a sorologia, que é: dependendo do teste utilizado ao longo do tempo, esses anticorpos desaparecem. Há vários trabalhos que mostram que se você seguir essas pessoas durante três, quatro meses, tal sorologia pode negativar. Um estudo publicado pela revista Transfusion com pessoas bastante experientes do Banco de Sangue de São Francisco mostrou que o teste usado pelo laboratório Fleury foi o que se manteve positivo durante mais tempo”, explica o Dr. Granato.

Existe um outro tipo de sorologia que é a pesquisa de anticorpos neutralizantes, que utiliza um método funcional. O problema dele é que se baseia no primeiro vírus que surgiu lá na cidade de Wuhan, na China, ou seja, ele já sofreu uma série de mutações. Quando você usa esse teste com a cepa Ômicron, ele não traz exatamente o mesmo desempenho; vai mostrar algumas diferenças em relação ao teste neutralizante que se dá com o vírus que tem neste momento aqui. 

“Nós também fizemos um teste de anticorpos neutralizantes em pacientes que foram vacinados. Desses, 77% foram positivos e 8% foram negativos e o restante foi indeterminado. Nos perguntamos: quanto tempo dura esses anticorpos neutralizantes? Isso vai depender muito do tipo de vírus que está circulando.

É importante entender que, quando a pessoa tem a sorologia positiva, ela também tem a imunidade celular positiva. Existem vários trabalhos mostrando isso, como nas revistas Cell, Emerging Infectious Diseases, mostrando que isso corresponde à realidade. Existe uma relação entre a resposta imune celular e a resposta imune humoral, uma vez que, nesse momento, ainda não se consegue avaliar a resposta imune celular. 

De acordo com o Dr. José Eduardo Levi, especula-se que, no Brasil, a gente deve ter feito algo como 100 milhões de testes de covid-19, o que é muito e, com isso, falamos de Setor Público e Privado, utilizando reagentes de diferentes procedências, inclusive sistemas totalmente automatizados - embora esses sistemas estejam disponíveis hoje, em algum momento não estavam. 

“Acho que um legado importante da pandemia é essa percepção de que a gente precisa investir em tecnologia, desenvolvimento local/nacional e produção local, para que não sejamos totalmente dependentes dessas outras fontes, pois em situações como essas (de pandemia), cada um cuida da sua parte. Por isso, os países que não são produtores sofrem com a falta de insumos, como reagentes de diagnósticos, vacinas, medicamentos, luvas, máscaras, entre outros”, explica. 

De acordo com o médico, é muito importante o fomento da cadeia produtiva, particularmente falando sobre o RT-PCR, que é um método muito utilizado nas emergências, como foi no caso da covid-19 e, agora, com a Monkeypox. Será por muito tempo um padrão para identificar novos vírus e bactérias, doenças infecciosas e emergentes também. 

 

Na última quinta-feira (06), a importância do diagnóstico de doenças raras foi tema debatido durante o 54º Congresso Brasileiro de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (CBPC/ML). 

A conferência “Especialização do laboratório clínico para o diagnóstico de Doenças Raras” foi presidida pelo Dr. Armando Alves da Fonseca – fundador e atual diretor geral do Laboratório DLE (Diagnósticos Laboratoriais Especializados), diretor médico de Medicina Personalizada do Grupo Pardini, ex-presidente, membro do conselho e por mais de 20 anos exerceu a coordenação executiva dos congressos de Patologia Clínica - e contou com a participação da Dra. Jacqueline Harouche Rodrigues da Fonseca –  médica patologista clínica, com MBA Executivo em Saúde pela UFRJ-COPPEAD, atua como Diretora Executiva do Laboratório DLE e como analista de GC/MS com ênfase em Ácidos Orgânicos Urinários – e do Dr. Wagner Antonio da Rosa Baratela -  doutor em Medicina com enfoque em Genética Médica pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, especialista em Genética Médica pela Sociedade Brasileira de Genética Médica – SBGM, é médico geneticista da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e Coordenador da Genética Médica e Molecular do Laboratório Fleury em São Paulo. 

“O objetivo da conferência foi mostrar a importância do laboratório na parte bioquímica especializada ou bioquímica genética, na parte de genética molecular, no caso do sequenciamento de nova geração e no apoio ao médico que suspeita de um paciente com doenças raras”, afirma o Dr. Armando Fonseca. 

O médico ressaltou que muitos pacientes sofrem anos a fio sem ter um diagnóstico e por isso é de extrema importância que laboratórios estejam preparados e treinados para encaminhar a pessoa ao caminho certo. Outro ponto é que mesmo laboratórios que possuem as tecnologias necessárias para o diagnóstico, por vezes não possuem a suspeição de que se trata de uma doença rara. Sendo assim, é imprescindível que os clínicos e o laboratório se comuniquem no sentido de auxiliar e indicar testes, acompanhamento e tratamento para portadores de doenças raras. 

“No caso das doenças raras, o diagnóstico precoce é fundamental porque elas podem evoluir rapidamente por vezes com consequências fatais, mas sempre com danos para o paciente”, conclui.

O Congresso Brasileiro de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial ocorre até 

sexta-feira (07) no CentroSul Centro de Convenções, em Florianópolis-SC. O evento reúne em média 4,2 mil participantes entre congressistas, visitantes, palestrantes e expositores do Brasil, América Latina, Estados Unidos, Europa e Ásia. 

“O laboratório nas doenças trombo-hemorrágicas” foi tema do 54º Congresso Brasileiro de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (CBPC/ML), apresentado em 06/10. A Microangiopatia trombótica (MAT) é um grupo de doenças caracterizadas pela formação de trombos na microvasculatura e anemia hemolítica microangiopática. As formas mais comuns, púrpura trombocitopênica trombótica (PTT) e síndrome hemolítico-urêmica, são doenças agudas e fulminantes causadas pela deficiência da metaloprotease ADAMST     13. Essa deficiência por sua vez, compromete a microcirculação sanguínea, podendo afetar órgãos, como os rins, coração e o cérebro, ao mesmo tempo. 

O alerta para a doença pode partir da análise de um hemograma simples, como exposto na conferência “Laboratório e microangiopatia trombótica” durante o 54º Congresso promovido pela Sociedade Brasileira de Patologia Clínica, com as participações do Professor em Medicina João Carlos de Campos Guerra, especializado em Hematologia      e a Doutora Christiane Gouvea,           hematologista com ênfase em hemostasia e trombose.

‘’Uma vez identificada a possibilidade da deficiência da ADAMST13, o paciente é encaminhado para exames específicos. Temos um protocolo já organizado que contempla um diagnóstico preciso, através de exames laboratoriais específicos e medicações altamente eficientes, já aprovadas no Brasil como o Rituximabe, Caplacizumab; associados ao procedimento de plasmaférese terapêutica. 

“O que precisamos é trabalhar na ampliação do acesso da  população a um diagnóstico preciso, rápido e tratamento apropriado, utilizando “Pathways” e ferramentas de inovação  para  identificar os casos suspeitos”, como defende o Doutor Guerra, que também adverte para  a  prevalência da doença , que é de 2 a 4 casos por milhão de habitante, portanto, o esperado no Brasil seria que fossem conhecidos cerca de 200 a 400 novos casos por ano, mas mesmo sem estatísticas, é possível afirmar que o País está muito distante da notificação esperada. Um registro atualizado do caso brasileiro destas doenças está sendo organizado pela Professora Fernanda Orsi, da Universidade de Campinas, Unicamp.

 

A palestra “Varíola do Macaco: o que sabemos até agora?” foi ministrada ontem (6/10), no 54º Congresso Brasileiro de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (CBPC/ML) pelos Drs. André Mario Doi, diretor de Ensino da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML), Roberta Sitnik, membro da Association for Molecular Pathology (AMP) e especialista do Laboratório do Hospital Israelita Albert Einstein; o médico Patologista Clínico Paulo Paixão, representante da Sociedade Portuguesa de Patologia Clínica (SPPC) e do infectologista Sérgio Beduschi.

A Dra. Roberta Sitnik iniciou a apresentação com uma breve introdução sobre o vírus, coleta dos materiais para o diagnóstico correto e os testes laboratoriais disponíveis, o Dr. Paulo Paixão falou sobre sua experiência em Portugal, um dos primeiros países a serem atingidos pela epidemia e o Dr. Sérgio Beduschi falou sobre os aspectos clínicos da doença e perspectiva sobre o futuro da epidemia.

Eles explicaram que, em maio de 2022, a Organização Mundial da Saúde (OMS), notificou casos de Varíola símia em diversos países, inicialmente na Europa e posteriormente em diversas regiões do mundo.  Desde então, o Brasil já confirmou cerca de 10.000 casos, sendo o terceiro país no mundo com maior incidência.

Este vírus foi descoberto em 1958, quando dois surtos semelhantes a varíola humana foram identificados em colônias de macacos mantidos para pesquisa (dando origem ao nome Varíola do macaco). O primeiro relato de infecção em humanos foi reportado em 1970 na República Democrática do Congo e desde então vêm sendo esporadicamente reportado em países da África Central e África Ocidental. Entretanto, o reservatório natural da Varíola símia ainda permanece desconhecido.

Frente a este cenário preocupante e potencial de transmissibilidade na população, é essencial que medidas de saúde pública sejam tomadas para reduzir a disseminação. Uma delas é o diagnóstico precoce dos pacientes acometidos para quebrar a cadeia de transmissão.